Assegurar as operações e controlar custos são as preocupações mais referenciadas pelos responsáveis de frota, fatores do qual dependem uma gestão assertiva dos meios e dos gastos com cada viatura, incluindo, naturalmente, energéticos. Há fatores que podem e devem ser trabalhados, até porque vão ajudar a definir o rumo futuro da mobilidade da empresa

“Uma frota mais eficiente promove muito mais do que a redução dos custos diretos com o consumo de energia”, começa por explicar Paulo Santos, coordenador do grupo de incubação da ADENE e um dos responsáveis pelo MOVE+, o sistema de avaliação e classificação energética de frotas automóveis.

“Utilizar veículos mais eficientes, ter boas prá­ticas de gestão de frotas, monitorizar a sua utiliza­ção e capacitar sistematicamente os seus condu­tores promove poupanças sustentadas de cuscos de energia, algumas sentidas de imediato, outras em períodos mais longos, frequentemente entre um a dois anos”.

Mas se os encargos com o combustível representam hoje em dia entre 15% a 21% dos gastos com uma frota e só cerca de 7% no caso de energia para as viaturas elétricas (“Car Cost Index”, LeasePlan, setembro de 2019), Paulo Santos lembra que esta “considerável redução da fatia de custos em termos absolutos, não deve fazer esquecer também outros benefícios relacionados e importantes, como a diminuição significativa dos gastos com a manutenção e a redução à exposição indireta de poluentes nocivos para a saúde”.

Mas será que podemos estabelecer um paralelo entre uma melhoria da eficiência energética e uma melhoria da rentabilidade de uma frota?

Na verdade, um dos fatores de maior imprevisibilidade em qualquer cálculo de custos de utilização são as constantes variações de preço dos combustíveis. Por isso, “em última instância, a eficiência energética pode ser entendida como um fator que influencia o custo por quilómetro percorrido, custo este que, infelizmente, pode sofrer alterações drásticas num curto espaço de tempo”, reforça o coordenador da ADENE.

“Quando complementamos com a redução dos custos de manutenção associados a uma melhor eficiência, esta relação é ainda maior. Nos casos de eletrificação total de viaturas, em que associamos uma forte diminuição de custos de consumos de energia, prevenindo mudanças tão drásticas na estrutura de custos, e custos de manutenção, as estratégias de eletrificação da frota melhoram significativamente a rentabilidade. E o mundo também agradece, uma vez que, até 2050, temos de cortar 98% das emissões associadas ao sector dos transportes, segundo o Roteiro para a Neutralidade Carbónica”.

No entanto, a transição para viaturas eletrificadas não basta. É importante estimular e fazer aplicar boas práticas de condução, adotar um sistema de gestão da frota otimizado, atender para a correta e atempada manutenção dos veículos, como forma de potenciar a eco-eficiência.

“Se para o mesmo nível de serviço conseguimos ser mais eficientes, então a frota é mais rentável”, sintetiza Paulo Santos, fazendo contudo questão de lembrar que as medidas e os impactos dependem sempre da realidade de cada frota.

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Situações práticas

Fica então evidente que a rentabilidade da frota e a eficiência energética andam de mão dada.

“É importante ter um gestor de frota informado das questões da eficiência energética, capaz de avaliar os seus ganhos. Existem medidas de baixo investimento, que requerem apenas disciplina ou um planeamento mais atento, que se tornam rentáveis em qualquer frota, proporcionando ganhos e visibilidade imediatos”.

Concretizando em números, Paulo Santos dá o exemplo de uma típica viatura a gasóleo que faça 50 mil quilómetros por ano, com um consumo médio de 5,6 l/100 km.

“Estima-se que, durante um mês, a pressão dos pneus decresça o suficiente para o consumo de combustível aumentar 4%. Isto significa que, por cada mês em que não verificamos a pressão dos pneus, podemos gastar mais 12 euros”.

“As análises que temos feito mostram também que, por cada cinco minutos que uma viatura está em pára-arranca no trânsito, por hora de serviço, os consumos aumentam cerca de 8%. Na viatura do exemplo anterior, se esta passar, em média, 15 minutos parada no trânsito, com pequenas alterações das rotas, um sistema start/stop e evitando horas de ponta (ago possível com o uso pleno de um bom sistema de gestão de frota), conseguíamos reduzir esse tempo para cinco minutos por hora de serviço. Isto representaria uma redução de cerca de 43 euros por mês!”

Multiplique-se agora estes valores por várias dezenas de viaturas para termos uma noção rápida da poupança obtida através de pequenas ações como as descritas.

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Instrumentos e medidas de poupança

Ter gestores empenhados e informados é importante. Mas é também fundamental dispor de viaturas eficientes, utilizadores formados e comprometidos, assim como ferramentas que forneçam dados para poder trabalhar assertivamente os parâmetros que mais influenciam o desempenho energético

“Primeiro que tudo, é crucial dispor de viaturas eficientes. É difícil, para não dizer impossível, apresentar melhorias com veículos em fim de vida. Portanto, é importante que existam ciclos de renovação da frota, com planeamento atempado, que incorpore critérios de eficiência energética no processo de escolha das viaturas”, refere Paulo Santos.

Outra medida relevante, muitas vezes desconsiderada, é a aposta na formação periódica e atualizada dos condutores.

“A prática de eco condução pode implicar poupanças de combustível na ordem dos 15%. E para frotas com alguma dimensão, os sistemas de telemática podem ajudar a levar estas medidas ainda mais longe, elevando os ganhos a outro patamar. Com a possibilidade de monitorização permanente dos consumos, o envio de alertas e de informação atualizada ao condutor ou ao gestor de frota, quando são detetados perfis de consumo acima do esperado em alguns percursos, consegue-se uma ação corretiva rápida. Ou permite analisar e propor ações corretivas mais estruturantes da condução e dos trajetos”.