Ricardo Silva é director comercial adjunto de business development na LeasePlan Portugal
Por: Ricardo Silva, Leaseplan
Já estarão reunidas as condições para a adoção de uma mobilidade mais sustentável?
Desde o seu aparecimento que os veículos elétricos despertam curiosidade junto de quem tem frotas para gerir, mas, na verdade, durante os primeiros anos, não passou disso, em boa parte devido às dúvidas sobre o sucesso da fórmula.
Em 2015, o Governo implementou a reforma da Fiscalidade Verde com o propósito de, entre outros, incentivar a adoção de veículos mais sustentáveis, mas, ainda assim, não se deram alterações materiais no interesse.
Sucede, porém, no nosso entendimento, que o processo de transição está agora num ponto de viragem.
Não que as vendas materializem já esta convicção mas porque nos últimos 12 meses, as dúvidas sobre o sucesso da mobilidade elétrica desvaneceram-se e tornou-se claro que os veículos elétricos vieram para ficar, sejam eles 100% elétricos, híbridos ou híbridos plug-in o que, a par de outros fatores importantes como os benefícios fiscais e a interrogação sobre a sustentabilidade das mecânicas convencionais, faz com que a pergunta que mais nos é feita no exercício da atividade de Consultoria seja “Devemos iniciar o processo de transição para veículos elétricos ?”.
Com efeito, é normal que assim seja pois, tal como acontece em todos os sectores de negócio relacionados com tecnologia, a evolução não é linear.
A oferta, que era escassa, continua a crescer e está cada vez mais diversificada, a autonomia das baterias tem aumentado e as infraestruturas, apesar de ainda pouco maduras, continuam a caminhar para dar resposta a um mundo cada vez mais eletrificado.
Já hoje existem países que são ótimos exemplos como é o caso do país mais feliz do Mundo, a Noruega, que apresenta o maior número de VE per capita, tendo atingindo um total de 500.000 veículos no final de 2016.
Em Oslo, tal como acontece na maioria das cidades dos Países escandinavos, existem já vias rápidas para VE; estações de carga em abundância; estacionamento privilegiado e isenção de pagamento em serviços de portagem, pelo que não é de estranhar que 40% dos veículos novos registados no ano passado sejam totalmente elétricos.
Mas para que à data de hoje esta pudesse ser uma realidade, o processo de transição iniciou-se na década de 90, quando foram desenvolvidas várias iniciativas com vista à redução da poluição atmosférica e sonora nos centros urbanos.
Os veículos com propulsão elétrica permitem reduzir o TCO da sua frota
Quando surgiram os primeiros veículos elétricos, o seu custo era substancialmente superior ao dos veículos movidos a motores convencionais pelo que a única motivação à mudança era ambiental.
Agora existe um outro motivador igualmente ou mais forte, o custo.
Existem hoje, alternativas que permitem poupanças bastante substanciais, como é o caso dos exemplos em baixo que alcançam poupanças de 15% do TCO no segmento pequeno familiar e 6% no segmento familiar médio.
Mesmo no segmento utilitário, é possível hoje ter um veículo elétrico ao mesmo custo com a virtude de ser do segmento acima, ou seja, com um upgrade de segmento.
Fatores críticos de sucesso
Recorrendo a vários estudos de consultoria em Clientes frotistas e estudos de mercado, reunimos os principais argumentos favoráveis à mudança, bem como os principais obstáculos a considerar de modo a tomar a melhor e mais informada decisão.
Frota/Condutor elegível
Apesar de estar em crescimento, as ofertas dos fabricantes de automóveis não servem todos os segmentos e perfis de utilização e a competitividade tem ainda variações significativas.
Deste modo, é de extrema importância que identifique claramente quais os condutores e perfis de utilização que reúnem condições à adoção de veículos elétricos.
Por outras palavras, os veículos com algum tipo de eletrificação ainda não são para todos.
Por exemplo, um condutor que faça mais de 100 km diários sem possibilidade de carregar o veículo, realisticamente não é elegível para um veículo 100% elétrico.
Infraestrutura
Depois de um arranque em força, a rede pública de carregamento estagnou.
Ainda que esteja previsto o reinvestimento para breve, o carregamento público não serve nem servirá a curto prazo para todas as necessidades. Ao mesmo tempo, nem todos os seus colaboradores terão uma garagem onde poderão carregar o veículo durante a noite.
Assim, esta é uma análise que deve considerar e validar com as diferentes necessidades dos seus condutores/unidades de negócio.
Assistência
Um veículo elétrico é composto por muito menos partes móveis que um motor de combustão, fazendo com que tenha menos necessidades de manutenção que um veículo convencional.
Todavia, por força da sua especificidade, existem oficinas especializadas na assistência de veículos elétricos, ou seja, nem todas as oficinas estão preparadas para prestar assistência a veículos elétricos pelo que, para utilizações intensivas, é fundamental que saiba exatamente quais as garantias oferecidas pela rede de assistência.
Fiscalidade
Atualmente a competitividade dos veículos elétricos ainda está suportada em benefícios fiscais, esperando-se que estes diminuam à medida que o sucesso da mobilidade elétrica cresça e o custo decresça.
Isto faz com que, naturalmente, as empresas tenham receio em tomar decisões com base em benefícios fiscais, especialmente num país com a instabilidade fiscal que se conhece em Portugal.
Todavia, também é expectável que a carga fiscal associada a veículos de combustão se agrave como forma de forçar a adoção de soluções de mobilidade mais sustentáveis.
Deste modo, é fundamental estar informado sobre o enquadramento fiscal em vigor bem como perspetivas de alterações.
Aprendizagem
Testar por via da introdução progressiva de veículos elétricos na sua frota fará com que esteja melhor posicionado para o futuro pois será uma questão de tempo até que as limitações à utilização de veículos a combustão o obriguem a agir, por exemplo, por via de restrições ao acesso a centros urbanos.
Quando mais cedo se preparar para mudança, mais rápido e eficaz será a reagir.
Responsabilidade social/ambiental
As escolhas de mobilidade que faz têm um impacto bastante significativo no ambiente e a exposição não pode ser ignorada atendendo ao crescente escrutínio político e social, em especial junto das últimas gerações.
Por outro lado, os seus próprios colaboradores formulam opiniões ainda que nem sempre as manifestem.
Note que um veículo a gasóleo que percorra 30.000 km anuais, liberta, anualmente, qualquer coisa como 3,5 toneladas de CO2.
Escolhas ambientalmente sensíveis, não só protegem a sua organização como podem até permitir-lhe uma melhor promoção junto dos seus clientes e prospetos.
Em suma, os benefícios da mobilidade elétrica são hoje superiores aos obstáculos, concluindo-se assim que estão reunidas as condições necessárias para que possa dar os primeiros passos.
Não obstante, atendendo à complexidade de implementação e de escolhas, deve recorrer a especialistas que o apoiem na transição para a mobilidade elétrica de modo a fazer as melhores escolhas.