Começando pela conclusão, é justo dizer que a aposta inicial demonstra ser, aos dias de hoje, uma aposta vencedora.
Portugal, aproveitando o aumento cada vez mais elevado da incorporação das energias renováveis no mix da produção de eletricidade a nível nacional, teve a audácia necessária para desenvolver um projeto pioneiro, que passou por desenvolver uma rede de carregamento elétrico nacional, assente num modelo totalmente interoperável, à semelhança do que é permitido pela SIBS no sector bancário.
Mobilidade elétrica: carregamento pago só em postos rápidos. Como é feita a operação.
Ao contrário do que se passava no resto da Europa, Portugal conseguiu a integração com a rede de distribuição de eletricidade, permitindo assim ao utilizador final um controlo e conhecimento de todas as componentes que compõem o custo do carregamento.
Era também um modelo que, desde o início, preconizava um mercado aberto e concorrencial, na busca das melhores soluções a apresentar aos utilizadores.
Quando, em 2017 – na altura em representação da Mobi.E, enquanto Administrador –, participei na 6.ª Conferência de Gestão de Frotas organizada pela Fleet Magazine, no painel “Mobilidade Elétrica: benefícios para as empresas”, estávamos ainda numa fase incipiente da retoma de um projeto que havia sido iniciado em 2010 e que, por motivos vários (crise económica, ausência de aposta política firme e desinvestimento dos construtores automóveis), esteve praticamente votado ao abandono até 2015.
Estavam a desenvolver-se todos os esforços para concluir a fase do projeto piloto e reunir as condições para que se fizesse a transição para uma fase de mercado, livre e concorrencial.
Estava também a fazer-se – já no terreno – a recuperação de variadíssimos postos de carregamento, assim como a proceder à sua expansão, de modo a conseguir chegar a todos os concelhos do país.
Entretanto, tinham já sido inaugurados os dois corredores de postos de carregamento rápido nas principais autoestradas, nomeadamente o corredor do Algarve, em julho de 2016, e o corredor Norte, em abril de 2017.
De 5.000 para 39.592 utilizadores em quatro anos
Tínhamos, ainda assim, uma Mobilidade Elétrica fundamentalmente de génese urbana e que gerava ainda a tão conhecida “ansiedade de autonomia”, quer pela tecnologia que era disponibilizada, quer pela dificuldade em concluir o projeto piloto e dar espaço aos operadores privados para que pudessem desenvolver planos de negócio para a expansão da infraestrutura.
A rede, em 2017, contava com cerca de 5.000 utilizadores distintos e, de 2010 até ao final de 2017, tinha registado cerca de 455 mil sessões de carregamento.
De lá para cá, há ainda muita coisa para cumprir, mas podemos dizer que, em menos de cinco anos, já assistimos a avanços significativos.
O projeto piloto foi finalmente terminado e, desde Julho de 2020, temos o modelo a funcionar em regime de mercado, contando os utilizadores com uma oferta bastante alargada, quer em termos de operação de postos de carregamento, quer do ponto de vista de soluções de comercialização de energia dedicadas à Mobilidade Elétrica.
Há, também, cada vez mais oferta de soluções especificamente desenhadas para apoiar as empresas na transição para uma frota elétrica.
Para isso houve grandes desenvolvimentos: do lado da tecnologia que produz veículos com baterias mais eficientes, com maior capacidade e, logo, com mais autonomia; pelo consecutivo aumento na rapidez do carregamento, que se tem vindo a tornar cada vez mais democrático, dado que já não são apenas as viaturas de gama alta a conseguir usufruir desses avanços (65% dos veículos de gama média atualmente comercializados permitem também carregamentos ultrarrápidos).
Tudo isto aliado à expansão contínua a que se tem assistido no desenvolvimento da rede.
Apesar de uma viatura elétrica continuar a registar uma maior eficiência de utilização em ambiente urbano, não há, aos dias de hoje, razões para que não se façam deslocações de norte a sul do País em veículos exclusivamente elétricos.
Com todos estes avanços, apesar da quebra bastante acentuada em consequência da pandemia de Covid-19, a rede em 2020 registou cerca de 927 mil sessões de carregamento num universo de 39.592 utilizadores distintos.
A pandemia trouxe-nos muitas dúvidas e incertezas, mas foi muito clara ao dar-nos a oportunidade de desenvolvermos os esforços para conseguirmos alcançar uma mobilidade cada vez mais sustentável.
Desde o poder político, aos fabricantes mas, sobretudo, pela perceção que nos tem sido transmitida pelos utilizadores, o futuro é elétrico.
(1) Nuno Maria Bonneville foi um dos oradores da 6.ª Conferência Gestão de Frotas realizada pela Fleet Magazine, na qualidade de Administrador da Mobi.E. Nesse evento que decorreu em 2017 traçou o enquadramento futuro desta entidade e perspetivou a expansão da rede de postos de carregamento de veículos elétricos, com a abertura deste mercado ao sector privado.
Quatro anos depois, a Fleet Magazine solicitou ao atual diretor de desenvolvimento da rede da Mobiletric, empresa portuguesa que opera uma vasta rede de postos públicos e comercializa soluções de renting e de carregamento, com oferta para empresas e comercialização de energia, para traçar um quadro da evolução da Mobilidade Elétrica em Portugal, uma aposta que considera o país conseguiu vencer