Em causa estão modelos de segmentos e autonomias dificilmente comparáveis. É por isso que esta análise tanto serve para mostrar os custos de utilização de algumas propostas, como para explicar as razões que ainda tornam complicado conseguir antecipar um estudo TCO de um carro 100% elétrico.

A previsão dos custos de utilização de uma viatura para uma empresa é um cálculo difícil de antecipar quando dele dependem alguns fatores imprevisíveis que produzem reflexos para o valor residual da viatura: um deles a evolução do mercado e da tecnologia, outro relativo aos custos de manutenção, ambos dependentes da ausência de dados consistentes, provenientes de um historial confiável.

TCO carros elétricos
BMW i3 (42 kWh)
  • Autonomia combinada: 285 km
  • Consumo: 15,3 kW/100 km
  • Velocidade de carregamento:
    a 3,7 kW: <10h para 80%
    a 7,2 kW: <5h para 80%
    a 50 kW: 40m para até 80%
    a 100 kW: Não possui

No fundo, esta dificuldade no apuramento de valores concretos ou pelo menos “confiáveis”, complica qualquer previsão, uma vez que nos encontramos perante tecnologias com novas exigências, com operações de manutenção e suprimento de peças completamente distintos das “vulgares” viaturas com motor térmico.

Por este último motivo – a ausência de dados relativos aos custos de manutenção – não constam neste cabaz de viaturas do presente TCO elaborado como habitualmente pela TIPS 4Y (estudo a 48 meses/120 mil quilómetros), alguns modelos importantes para a dinâmica futura do mercado automóvel, como os novos Mini Cooper SE, Opel Corsa-e e Peugeot e-208, ou ainda o Tesla Model 3, tão só o carro elétrico mais vendido em Portugal em 2019.

TCO carros elétricos
Hyundai IONIQ EV (38,3 kWh)
  • Autonomia combinada: 311 km
  • Consumo: 101 Wh/km
  • Velocidade carregamento:
    doméstico (AC): 35h30m para 100%
    a 7,2 kW: 6h05 para 100%
    a 50 kW: 57m para até 80%
    a 100 kW: 54m para até 80%

De fora ficaram ainda outros modelos 100% elétricos como o Jaguar i-Pace ou o Hyundai Kauai, 5.º e 6.º modelos BEV mais vendidos em Portugal no ano passado, que vão ser objeto de futura análise juntamente com outros veículos com características de SUV, que entretanto estão a chegar ao mercado.

Declaração de intenções

Importa desde logo realçar que este não é um estudo comparativo.

Ainda que por razões de preço vs. benefício fiscal, autonomia, equipamento, capacidades de carregamento e até disponibilidade de veículos para entrega por parte das marcas pareça confundir, às vezes, as categorias de cada um, racionalmente, um smart Forfour EQ, por exemplo, não é comparável a qualquer um dos restantes que fazem parte da presente lista.

TCO carros elétricos
Nissan LEAF (40 kWh)
  • Autonomia: 270 km
  • Consumo: 145 Wh/km
  • Velocidade de carregamento:
    doméstico (AC): 21h (10A)
    a 6,6 kW: 7h30m para 100%
    a 50 kW: 40m a 60m para 80%
    a 100 kW: Não possui

Inclui-lo na análise justifica-se porque a oferta de modelos 100% elétricos ainda é escassa, tal como a disponibilidade de produto, e também pelo facto de a smart ter passado a ser uma marca 100% eletrificada a partir de 2020.

Valor residual

Como foi referido logo no início, o cálculo do valor residual de um veículo elétrico depende bastante do su historial, nomeadamente da aceitação e presença no mercado. O que, por razões óbvias, não acontece com a maioria dos modelos elétricos. Mas mesmo aqueles que existem há mais tempo – casos do Leaf, ZOE e i3, por exemplo -, conheceram ao longo do seu tempo de vida, uma evolução tecnológica muito mais profunda do que qualquer veículo como motor a gasolina ou a gasóleo.

TCO carros elétricos
Renault ZOE (52 kWh)
  • Autonomia: 395 km
  • Consumo: 13,3 kWh/100 km
  • Velocidade de carregamento:
    doméstico (AC): 37h para 100%, 29h30m para 80%
    a 7,4 kW: 9h25m para 100%
    a 22 kW: 2h15m para 80%; 2h54m para 100%
    a 50 kW: 1h05m para 80%; 1h29m para 100%
    a 100 kW: Não possui

Torna-se complicado também pela exigência de dois fatores em permanente mutação: autonomia, da qual depende a capacidade da bateria, a rentabilidade do sistema eletrificado e a rapidez de carregamento e ainda toda a tecnologia entretanto acrescentada, que assume crescente importância neste tipo de veículo.

Por isso, a evolução rápida destas viaturas nos últimos anos, aliada á resistência e desconfiança que ainda subsiste da parte de mitos consumidores, quer em relação às viaturas e sua fiabilidade, quer à quantidade de infraestruturas e incerteza quanto aos custos de carregamento, são fatores que ainda moderam muitas decisões.

Custos de manutenção e utilização

Os custos de manutenção são geralmente apresentados como sendo mais reduzidos quando comparados com versões equiparáveis com motor térmico. Por exemplo, o custo de quatro injetores para um motor diesel pode custar quase tanto como uma bateria e, se é verdade que nem sempre é preciso substituir quatro injetores de uma só vez, mais raramente é necessário substituir uma bateria completa, uma vez que ela é constituída por vários módulos (células).

Volkswagen e-Golf (35,8 kWh)
  • Autonomia: 231 km
  • Consumo: 15,4 kWh/100 km
  • Velocidade de carregamento:
    doméstico (AC, 2,3 kW): 17h para 100%
    a 3,6 kW: 10h50m para 100%
    a 7,4 kW: 5h15m para 100%
    a 22 kW: 3h para 100%
    a 40 kW: 45m para 80%
    a 100 kW: Não possui

Também é certo que os custos de manutenção dos veículos térmicos têm vindo a crescer por força de toda a tecnologia obrigatoriamente acrescentada: sistemas de retenção de gases, equipamento eletrónico, dispositivos de segurança, etc.. Todavia, a intervenção em determinadas áreas dos carros elétricos obriga à formação de mecânicos especializados em alta tensão, além de equipamento tecnologicamente bastante dispendioso, ou seja, a investimentos avultados que os concessionários têm obrigatoriamente de rentabilizar.

Já os custos de utilização continuam a depender muito do tipo de utilizador e função a que se destina o veículo. Com o preço de aquisição ainda muito influenciado pelo custo das baterias, qualquer decisão de aquisição deve depender, antes de mais, das condições que a empresa tem para carregamento elétrico destas viaturas e da quilometragem média diária que terão de efetuar.

Em termos práticos, significa isto que um modelo com autonomia anunciada para 300 km, tanto poderá só conseguir percorrer 200 km em autoestrada ou nas mãos de determinado utilizador, como 400 km quando conduzido de outro modo em, por exemplo, ambiente urbano. Significa também que uma bateria com 80 kWh de capacidade num veículo com autonomia homologada para mais de 500 km vai precisar, enquanto não chegarem a Portugal postos com velocidade de carregamento superior a 100 kW, de várias horas ligado a uma wallbox de 22 kW, quando não de um dia inteiro a recarregar a partir de uma tomada doméstica.

TCO carros elétricos
smart EQ forfour (17,6 kWh)
  • Autonomia: 129 km
  • Consumo: 18 kWh/100 km
  • Velocidade de carregamento:
    doméstico (AC): <6h com carregador de 4,6 kW integrado
    a 22 kW: <40m para 80%
    a 50 kW: Não possui
    a 100 kW: Não possui

Se estes fatores são abordados é porque deles dependem muito os valores de consumo, já que a ligação a qualquer uma destas soluções de carregamento apresenta custos diferentes por kW de energia abastecida. Daí a razão porque o cálculo é baseado num custo de 20 cêntimos por kW de energia, um valor estabelecido apenas para servir de comparação.

Benefícios fiscais

Algumas das medidas incluídas na chamada Fiscalidade Verde são a justificação económica mais referida por muitas empresas para explicar a sua adesão à mobilidade elétrica.

Juntas, a dedução do IVA e a ausência de Tributação Autónoma contribuem em muito para a redução dos custos de utilização de um carro 100% elétrico.

Consulte a Tabela de TCO para os veículos em análise: