Multifacetados
A oferta de furgões compactos é cada vez maior, com a entrada de novas marcas nesta classe de veículo. Porém, os onze comerciais ligeiros deste painel partilham cinco plataformas e respetivos motores. O que os distingue afinal? E qual o mais competitivo?
Se por força do confinamento e do teletrabalho algumas empresas viram reduzir a quilometragem da sua frota de ligeiros de passageiros, de um modo geral, aquelas que atuam na área dos serviços de distribuição e de assistência técnica sofreram menos interrupções na atividade dos veículos de mercadorias.
Admira portanto que as vendas de comerciais ligeiros tenham recuado quase 40% entre janeiro e agosto deste ano, de acordo com as tabelas de novas matrículas elaboradas pela ACAP. A contabilidade geral revela sensivelmente menos 1.400 unidades face a idêntico período de 2019, com a particularidade de todos os modelos que constam neste estudo, com exceção do Toyota Proace City e do Nissan NV250, lançados em 2020, verem reduzida significativamente a sua expressão de vendas, em alguns casos para menos de metade.
Entre os vários motivos que podem explicar a fraca renovação deste segmento destaca-se o facto de, perante a indefinição quanto ao futuro de alguns negócios, algumas empresas com frotas subcontratadas estenderam o prazo de vida útil das viaturas, aproveitando, nos casos em que isso foi possível, as condições excecionais criadas pelo regime de moratória para reduzir os encargos com os financiamentos em curso. E ainda porque, nas situações pontuais de acréscimo de volume de trabalho, a prática habitual é o recurso a alugueres temporários de viatura junto de um operador de rent-a-car.
Fiscalidade
Como é sabido, as alterações efetuadas nas tabelas do ISV em 2012, ao retirarem competitividade aos comerciais ligeiros derivados de viaturas de turismo, fizeram dos furgões ligeiros verdadeiros “paus para toda a obra”. Utilizados para a distribuição ou para serviços de assistência técnica variada, estes veículos servem ainda as equipas comerciais de algumas empresas e muitos ENI com contabilidade organizada conduzem-nos na sua atividade diária normal, sem fazer uso da caixa de carga. E a explicação surge ao analisar os preços praticados para profissionais (fornecidos por cada uma das marcas automóveis presente no estudo), explanado no quadro sem IVA, uma vez que este imposto é dedutível para este tipo de viatura.
Uma vez que são tributados pela tabela B do Código do ISV, os encargos com a aquisição, uso e depreciação da viatura não são também sujeitos a Tributação Autónoma.
Viaturas em análise
Produção partilhada
O cabaz de viaturas analisado inclui toda a oferta de furgões L1 disponível em Portugal. Os custos de desenvolvimento deste produto e a sua reduzida rentabilidade levam muitos construtores a estabelecer parcerias, podendo assim dispor de um produto com a sua marca, ainda que tenha como ponto de partida um modelo da concorrência.
Assim acontece com o Nissan NV250 e Mercedes-Benz Citan, que partilham a plataforma e mecânica do Renault Kangoo e, fora do universo de marcas do grupo PSA (Peugeot, Citroën e Opel), com o Toyota Proace City, que tem como ponto de partida o Berlingo Van.
Entre os modelos mais antigos presentes neste estudo da Tips4Y elaborado para a FLEET MAGAZINE contam-se a VW Caddy (um novo modelo surge no final deste ano) e o Fiat Doblò, recentemente atualizado, mas com futuro garantido na nova geração de comerciais do grupo PSA.
O Dacia Dokker tem também mecânica partilhada com o grupo Renault.
Dois ou três lugares e classe de portagem
Entre as funcionalidades apreciadas neste tipo de veículos (opcional em algumas marcas) contam-se a faculdade de poderem transportar até três ocupantes, embora as condições em que o consigam fazer sejam, regra geral, bastante limitadas e pouco confortáveis. Outra é a possibilidade de rebatimento ou modularidade do banco ou bancos da direita, para criar uma plataforma de trabalho no encosto, um espaço adicional para pequenos objetos sob o assento ou para, através da abertura na caixa de carga, permitir o transporte de objetos com comprimento superior ao que a caixa de carga permite.
As novas normas de segurança, nomeadamente as de proteção dos peões em caso de embate, elevou também a parte frontal de alguns veículos mais recentes, fazendo com que só possam ser classificados como Classe 1 nas portagens nacionais, se associados a um dispositivo de cobrança automática das passagens.
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Veredicto
O estudo a 48 meses/120 mil quilómetros elaborado pela Tips4Y expõe algumas incoerências, como o facto de alguns modelos similares, com o mesmo motor, apresentarem consumos distintos. Isto pode ter a ver com o facto das normas WLTP levarem em linha de consideração aspetos como o equipamento envolvido, por exemplo.
Quanto aos valores de manutenção preditiva, estes devem-se, em grande medida, à política individual das marcas, podendo ser mais competitivos do que os aqui referidos, através da contratualização de planos prévios de manutenção, seja com o fabricante, ou com uma gestora de frota.
É também interessante verificar a importância da sigla presente na grelha, quando se constata a retenção de valor enquanto usado de modelos similares como o Mercedes-Benz Citan (com 49% de valor residual) e Renault Kangoo (45%) ou do Toyota Proace City e Peugeot Partner (ambos com 47% de VR), em contraponto com o Citroën Berlingo (45%).
Ainda assim, sem grande surpresa, os dois modelos com custo por quilómetro mais reduzido são aqueles que apresentam preço de aquisição mais baixo: Dacia Dokker e Fiat Doblò, o último com a oferta de quatro anos de garantia que vigora em toda a gama Fiat Professional.
A garantia pode ser outro fator importante de decisão na escolha do produto, sobretudo quando a previsão de uso intensivo da viatura e consequente desgaste antecipa custos elevados de recondicionamento, fazendo optar pela sua aquisição para propriedade. Neste campeonato, a mais extensa é a da Toyota, que alarga à gama de comerciais a garantia de sete anos proposta para todos os novos modelos da marca.