Fora algumas (poucas) unidades destinadas a quadros dirigentes de empresas ligadas principalmente ao ramo vinícola, a generalidade das pick-up vendidas em 2017 entraram ao serviço de entidades públicas (Câmaras e Empresas Municipais), organismos e Institutos do Estado, incluindo as Forças Armadas, além de empresas ligadas às áreas das energias e da construção.
Neste segmento há uma oferta mais restrita de marcas, com a particularidade de aqui vingarem construtores que globalmente não têm grande penetração nas empresas em Portugal.
Não é também um segmento que valha muitas unidades anualmente – 3.905 em 2017, pouco mais de 8% do mercado de comerciais –, mas gozou de um espetacular crescimento de 17,7% face a 2016.
E, neste caso, estamos a falar realmente de vendas concretas.
Ao olhar para este gráfico elaborado a partir dos valores contabilizados pela ACAP, conclui-se que predomina a procura por versões com tração total e que a nova Toyota Hilux dominou mais de um terço do mercado, com 38,7% das matrículas.
Para este brilhante resultado da Toyota contribuíram vários fatores, o principal dos quais ter vencido vários concursos públicos.
Mas, além do valor intrínseco do todo-o-terreno da marca japonesa, real e inquestionável, contribuiu também o facto de um dos principais concorrentes dos últimos anos, o Volkswagen Amarok, ter perdido competitividade no ano passado, ao deixar de contar com o motor 2.0 TDI por razões ambientais.
Aliás, a um pedido de comentário sobre o comportamento deste modelo no mercado português e mais concretamente na oferta às empresas, a resposta da SIVA foi perentória: “não temos versões de trabalho no novo Amarok.”
Por isso, a inclusão da avaliação do carro alemão neste estudo TCO elaborado pela TYPS4Y tem principalmente a ver com o facto de tentar entender o efeito e as consequências de uma motorização V6 de 3,0 litros, com taxas ambientais bastante elevadas, além de um preço de aquisição afetado pela incidência do ISV.
Para não isolar o Amarok, colocámos no mesmo patamar outra oferta alemã: a recente pick-up premium da Mercedes-Benz.
O MB Classe X eleva a outro nível a base que tem origem no Nissan Navara, enriquecido com um interior mais tecnológico e revestido com materiais condizentes com o posicionamento que a MB tem, por direito próprio, junto do consumidor.
Mais do que um comparativo, esta é uma análise todo-o-terreno que reflete o peso de cada um dos itens nos custos de utilização dos carros em análise
O que nos diz o mercado?
Em primeiro lugar, este não é um mercado fácil de avaliar, principalmente por causa da multiplicidade de versões existentes.
Além do pormenor da tração (dianteira ou total), a generalidade das marcas comercializa versões chassis/cabine (para carroçamento, por exemplo, em 2017, 110 unidades Hilux foram transformadas para os serviços de intervenção rápida do ICNF na missão de combate aos fogos), cabine simples, longa ou dupla consoante as marcas, com caixa de carga metálica e ainda versões de 3 e 5 lugares.
E, claro, ao dispor do cliente há ainda uma vasta gama de acessórios que passam pelo aproveitamento da caixa de carga, alguns dos quais acabam por ser incluídos em níveis de equipamento.
Não olvidando o facto de poderem beneficiar da equiparação fiscal a comerciais, o que leva à criação de algumas versões de cabine dupla com 3 lugares, como o Nissan Navara, que oferece um banco traseiro completo mas só com um assento funcional. (mais vantagens fiscais na parte final do texto)
Por fim, outra particularidade deste segmento: a partilha de soluções entre construtores.
Os custos de desenvolvimento e de produção e as expetativas de vendas justificam os exemplos já referidos do Navara/MB X (e Renault Alaskan), assim como explicam a parceria entre a Mitsubishi e a Fiat, de que resultou o Fullback.
Com grande tradição neste mercado e uma extraordinária reputação de robustez, também o Isuzu D-Max é comercializado por marcas do grupo GM, o que já não acontece em Portugal desde o Opel Campo.
Por fim, é de ressalvar que algumas pick-up com tração não integral são homologadas de modo a poderem beneficiar da classificação classe 1 nas portagens, quando associadas à Via Verde. (ver na parte final do texto)
E, agora, o veredicto
Todos os fatores acima descritos tornaram bastante complicada a tarefa de selecionar as versões para a análise levada a cabo pela TIPS4Y.
Para acrescentar dificuldade, a própria especificidade2 destes carros gera ofertas de equipamento diferenciadas, o que, naturalmente, acaba por ter reflexos sobre o preço.
Como é natural nos estudos TCO publicados pela Fleet Magazine, os preços de aquisição constam da tabela de cada uma das marcas e não refletem políticas de descontos para empresas ou outras vantagens, como ofertas de manutenção ou campanhas especiais.
Há ainda que ter em conta que os conjuntos de três lugares encerram um conjunto importante de vantagens para as empresas, derivado do facto de serem comerciais.
Este estudo mostra também a influência da cilindrada vs consumo vs emissões no apuramento do IUC.
Por isso, mais do que um comparativo, esta é uma análise todo-o-terreno que reflete o peso de cada um dos itens nos custos de utilização dos carros em análise, nomeadamente a importância da retenção do preço após os 4 anos/120 mil quilómetros do período em análise.
Tributação Autónoma? Bem, há algumas que são veículos comerciais, apesar da cabine dupla, de 3 óptimos lugares e espaço de sobra no interior…
O que diz a Fiscalidade
Com exceção das empresas onde a exploração do veículo constitua objeto de atividade do sujeito passivo, por exemplo, adquiridas e utilizadas por uma rent-a-car para fins de aluguer ou agência de viagens para a realização exclusiva de passeios turísticos, a dedução do IVA da aquisição só é permitida para versões de caixa aberta até 3 lugares, com ou sem tração total e independentemente da estrutura da cabine.
Esta equiparação a veículos ligeiros de mercadorias dispensa a obrigatoriedade de sujeitar as despesas a Tributação Autónoma.
Contudo, o código do ISV classifica como automóvel ligeiro de mercadorias, “de caixa aberta ou sem caixa, com lotação superior a 3 lugares, incluindo o do condutor, que apresente tração às quatro rodas, permanente ou adaptável” (onde se incluem as pick-up), beneficiando de uma taxa intermédia de 50% de ISV e não os sujeitando à “sobretaxa” decorrente dos valores de CO2.
Deve ter-se em atenção a inclusão de reboque.
Desde que esta necessidade não ocorra exclusivamente para fins de transporte de mercadorias e/ou a uma utilização com carácter agrícola, comercial ou industrial, são automaticamente considerados veículos ligeiros de passageiros.
Tal como alguns SUV, para serem consideradas Classe 1 com serviço Via Verde, as viaturas do género pick-up com altura frontal superior a 1,10 metros e inferior a 1,30 metros (medida na vertical do eixo dianteiro), deverão ter apenas tração a 2 rodas, peso bruto superior a 2.300 kg e lotação igual ou superior a 5 lugares.